Trajetória profissional

Vivendo as transformações que 2021 nos impôs, é impossível não refletir sobre a minha trajetória profissional e notar que ela, apesar de ter mais de 20 anos (se iniciou quando eu tinha 16 anos, em 1996, através de um estágio remunerado) a cada dez anos apresenta uma significativa mudança em torno do próprio eixo, deslocando algumas posições, causando revoluções, mas sempre em torno dos mesmos elementos.

Em 2001 comecei a trabalhar como Analista de Suporte de Informática, cargo que conquistei por conta da minha (incompleta) formação técnica no ensino médio. No mesmo ano iniciei o bacharelado em Administração. Em seguida busquei estágios na Área de Marketing, consegui alocações na área comercial e descobri anos depois que foi a melhor escola de marketing por onde passei.

Dois anos depois, já na área de marketing, passei por grandes empresas e em 2006, concluindo a faculdade, decidi empreender através de uma consultoria focada em gestão estratégica para micro e pequenas empresas. Em 2008, após viver uma traição profissional, decidi conciliar consultorias com um emprego. Estas decisões me possibilitaram seguir meus estudos de pós-graduação, e o primeiro investimento foi em um MBA.

Em 2011 iniciei uma pós-graduação que me deu a oportunidade de perceber um tema que já transitava em minha vida pessoal, mas que poderia ser deslocado para a minha vida profissional através da pesquisa: o cozinhar. Ainda não era sobre comida, era sobre o ‘fazer comida’.  Concluída a pós, no ano seguinte iniciei uma busca por formação em Gastronomia, idealizei e geri um coletivo de diferentes projetos culturais gastronômicos: a minha ‘persona’ gestora encontrava a minha ‘persona’ pesquisadora e tudo parecia ter se encaixado, mas o tempo mostrou que ajustes seriam necessários mais adiante.

Este coletivo operou entre 2012 e 2015, era baseado na Internet e permitia interações entre diferentes tipos de projetos culturais, que foram realizados no Rio de Janeiro e em parceria com diferentes instituições. Minha formação como pesquisador (que avançou através de um mestrado), este Coletivo e a vivência como ativista do movimento Slow Food foram determinantes para a minha entrada no universo da Gastronomia e a decisão de seguir neste caminho de pesquisa, produção cultural e docência (quando entrei no SENAC RJ como professor).

O senso crítico que desenvolvi ao longo deste percurso me trouxe incômodos com a categoria ‘gourmet’ que assinava o projeto, embora o ‘coletivo’ mantivesse o espírito da diversidade e do diálogo. Então, as personas gestora e pesquisadora encontraram uma terceira persona ativista que foi se formando ao longo destas experiências e o conflito foi inevitável.

Enfrentei desgastes no modelo das parcerias comerciais que sustentavam os projetos culturais gastronômicos e, por isso, assumi uma postura de recuo com relação ao desenvolvimento e expansão dos projetos que despertavam interesses de empresas de grande porte e centros culturais fora da cidade. O que parecia oportunidade de crescimento do projeto foi lido por mim como descaracterização do caráter artesanal e dialógico do mesmo, o que me levou a tomar a difícil decisão de fechar o portal em 2016, para reconfiguração das premissas e eventual busca das novas possibilidades futuras. Neste momento, o Brasil também já vivia um período político e econômico conturbado e definitivamente o contexto pedia pausa.

Em 2016 iniciei minha carreira como docente universitário, primeiro na UNIGRANRIO e posteriormente na CELSO LISBOA, duas instituições privadas. Atuei na pós-graduação e na graduação em diferentes disciplinas, sempre na Gestão e nos links com Educação, Inovação, Criatividade e Marketing.

Em 2019, ao ser aprovado num concurso de professor substituto em Gastronomia na UFRJ e ter meu pré-projeto de tese de doutorado aprovado , decidi sair das instituições privadas e me dedicar a esta nova experiência, e entendi que tinha chegado a hora de retomar o projeto ‘Coletivo Gourmet’, mas sob novas premissas e arranjos. Todos os projetos foram revisitados em suas bases, objetivos, formatos e dinâmicas. A grande maioria foi descartada em definitivo, e os mais relevantes e sensíveis foram remodelados.

Um ‘novo’ eixo: a educação. Escola de Comida, um espaço para (re)pensar a relação com a comida e com a escola. No fundo, sempre foi minha intenção trabalhar vivências culturais como processos de aprendizagem. Eu só não sabia nomear isso. Não sabia como fazer. Agora tenho propostas sobre como seguir e ao longo do ano desafiador de 2020 fui angariando pessoas e parcerias estratégicas para esta retomada, que precisou ser adiada.

E agora, em 2021, inicio uma nova jornada. Você me acompanha?